As vezes ficava sozinho na areia e via os meninos maiores entrando pra surfar. Achava legal que eles punham a mão na água e
faziam o sinal da cruz.
Um dia arrumou
uma prancha azul, sabe-se lá onde. Era azul? Não importa. O que importa é que ele ficava
de pé, equilibrado nas pernas compridas, e aquilo era bom demais. Nem via o tempo
passar.
Pena que logo a prancha se espatifou na areia. Da prancha foi um pedaço azul pra cada lado.
Do menino dos olhos pequenos foi um caldo e um cotovelo ralado. Foi assustador pensar em perder as ondas.
Nem passou na cabeça pedir mais ajuda da vó e do vô.
E aí aprendeu uma
coisa pra vida toda: o que quisesse, teria que conseguir sozinho.
E assim foi.
E assim foi.
Juntou seus brinquedos
e rifou. Fez questão de levar os prêmios na casa da menina sorteada. Foi a
primeira vez que viu uma menina chorar de alegria. Não entendeu direito e
pensou que meninas eram estranhas, mas gostou muito que ela deu um beijo nele.
Não queria
nunca mais ter uma prancha partida pelas ondas. Comprou uma prancha difícil de quebrar, e nunca mais parou de surfar.
Coitada da
menina que ficou com o coração partido.
Ele nunca mais voltou pra buscar outro beijo dela.
Ele nunca mais voltou pra buscar outro beijo dela.