segunda-feira, 9 de março de 2009

Anna Scott, Notting Hill

Sobre a capacidade do cinema de representar as questões existenciais, eu já postei o meu personagem + cena número 1: o anjo do Nicholas Cage no momento em que cai no mundo (Cidade dos Anjos, remake do Asas do Desejo).

Como esta, há outras cenas que me levam pro looping recursivo infinito de pensar na vida. O que, aliás, eu faço o tempo todo, como se não houvesse outra coisa a se fazer no mundo.

Eis meu personagem emblemático + cena número 2: a atriz interpretada pela Julia Roberts no filme Notting Hill. É uma cena tão singela quanto genial que expressa a vulnerabilidade humana, aqui representada pela entrega despida de quem se declara pra pessoa amada.

A super rica, famosa, hollywoodiana, linda e espetacular atriz Anna Scott vai até a livraria do rapaz comum, interpretado pelo Hugh Grant. Ela leva um presente de valor inestimável, que ele não poderia comprar nem que trabalhasse a vida toda. Ela entrega pra ele uma gravura original do Chagall porque lembrou-se que ele gostava. Ele fica estupefato, mas não quer parecer deslumbrado, então resolve play cool e acaba não mostrando o quanto apreciou o gesto.

Ela fala que gostaria de vê-lo de novo. E com isso ela diz que sabe que as vidas deles são muito diferentes e que isso gera desconforto. E que por mais que a ela parecesse certo levar a história adiante, ela sabia que seria um esforço grande. Algo que só se pode aceitar, mas nunca se pode pedir.

Ele, o rapaz comum, se sente intimidado com o tanto que ele próprio acha tudo 'inacessível'. Acaba apenas concordando que aquela história seria muito difícil e não se oferece pra tentar.

Ela engole as lágrimas a seco e diz pra ele que não importa o dinheiro que ela tenha ou a fama e glamour que ela represente. Que alí ela é apenas uma garota pedindo a um rapaz que goste dela.

''I'm just a girl, standing in front of a boy, asking him to love her''.

O choro sufoca porque ela se dá conta de que tudo que se agrega de valor na vida é só uma casquinha. Querer alguém é despir-se de tudo e ficar a mercê do outro. Totalmente vulnerável.

Ao mostrar o seu querer você se expõe, apostando que seu sentimento seja acolhido e se transforme na maravilha do 'encontro'. Mas correndo o risco de uma dor tão dura que abala nossa vontade de sobreviver. Que é a dor de quem entrega seu coração de presente e o outro, por qualquer que seja a razão, não aceita.
.

4 comentários:

mélis disse...

oh boy...

Duda Camargo disse...

Caraaaaaca, eu também acho sensacional essa frase/cena! Tá entre as minhas, sei lá, Top 8... Não, Top 7, Top 7!!!

Duda Camargo disse...

(E o engraçado é que a Anna Scott só faz isso porque nesse ponto do filme ela ainda não sabe que o Hugh Grant, na verdade, é louco por você, né?)

Silvinha disse...

hahahhahahahahahha! exato, duda!
all 'brits' are crazy about me...